Território: nosso corpo, nosso espírito

Manifesto de apoio e solidariedade às comunidades da Amazônia

Nós: mulheres, lésbicas, travestis, trans, indígenas, camponesas, indígenas, negras, afrodescendentes, comunitárias, faveladas, urbanas, trabalhadoras, latino-americanas e de todo mundo, nos unimos para repudiar as queimadas genocidas da Amazônia, que começaram no Brasil e se estenderam à Bolívia, Peru e Paraguai.

A Amazônia é a batida pulsante da própria vida – que tem milhões de formas, mas é apenas uma – órgão vital do mundo: é o lugar onde uma força do cosmos, a luz do sol, é transformada em grande parte do ar que respiramos quase todas as formas de vida no planeta. A Amazônia é o lugar onde os minerais se transformam em terra e a terra é sustentada graças às redes que tecem suas árvores centenárias em seu seio que borbulha de seres grandes e pequenos ao longo dos rios. A Amazônia é o lugar onde os rios brotam de fontes que há milhões de anos ficam embaixo de quilômetros de rochas e fornecem a umidade necessária para viver na terra e para manter as árvores e seus milhares, milhões de animais e plantas. A Amazônia é o lugar onde a vida se faz e nos faz com o ar, a umidade e a regulação do clima. A Amazônia é o lar, a fonte de vida de centenas de povos indígenas que, por sua vez, a protegem da depredação de capital, dos capitalistas. São os povos que protegem a água de hoje e do futuro, os alimentos que muitxs nós comemos.

A Amazônia e seus habitantes são a resistência ancestral à imbecilidade humana, ao antropocentrismo criminoso que gira em torno, é claro, do universal masculino. A Amazônia está sendo exterminada pela ação direta do capitalismo extrativista.

Não aceitamos a violência ou as mortes a que os indígenas estão sendo submetidos e as comunidades que viveram durante séculos em cuidado mútuo com a selva e com todos os seres não humanos que a habitam.

Nós: mulheres, lésbicas, travestis, trans, indígenas, camponesas, indígenas, negras, afrodescendentes, comunitárias, faveladas, urbanas, trabalhadoras, latino-americanas e de todo o mundo agradecemos e apoiamos a luta das amazônidas de mais 130 povos que promoveram a Primeira Marcha das Mulheres Indígenas do Brasil denunciando o aumento do desmatamento na Amazônia em 67% desde o início do governo terrorista-extrativista-patriarcal de Bolsonaro. Com o lema “Território: nosso corpo, nosso espírito”, a marcha denunciou a urgência do cuidado com os vivos, das florestas e da água, e exigiu o fim da violência sexista e racista contra elas e contra as crianças.

A Primeira Marcha das Mulheres Indígenas relata um novo tipo de luta pelo território, também entendido como o planeta em que vivemos e contra as causas capitalista-extrativista-patriarcal da mudança climática. Também vimos a força da Marcha da Margaridas que, alguns dias antes, reuniu trabalhadoras rurais, da floresta e das águas de todos os estados brasileiros.
Nós, esses corpos feminizados que somos, rejeitamos a violência e o extermínio colonial do que existe e agradecemos às nossas irmãs amazônidas e camponesas porque a luta delas é nossa luta.

Sabemos que os empresários e seus agentes causaram o incêndio. Eles promovem o desmate da floresta e deslocamento das comunidades para ampliar a fronteira agrícola e pecuária e favorecer a acumulação extrativista e genocida do agronegócio. Entendemos que se trata de uma forma de disciplinamento atroz, uma resposta desenfreada à energia alavancada em todo o mundo pela marcha das mulheres indígenas, guardiãs da selva e das formas de existência insurgentes que ela abriga.

“Quando defendemos nossos territórios, nossos corpos e nossos espíritos, estamos também defendendo as vidas dos outros povos que habitam este planeta.” Assim disseram também várias das mulheres que caminhavam pelas ruas de Brasília com seus filhxs: “É na vida comunal que uma vida decente pode ser sustentada”. Com elas e para todxs, apelamos às organizações feministas de todo o mundo para que demonstrem e exijam que sejam tomadas as medidas necessárias para deter as queimadas.

#NiUnaMenos
#VivasNosQueremos
#ForaBolsonaro
#MachistasRacistasNãoPasarão
#EleNão

foto: trilceradio.com.ar

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