UM MUNDO EM CONVULSÃO
Buenos Aires.
Assim foi o Seminário Internacional “Mundo em convulsão: turbulências financeiras, políticas e tecnológicas. Uma perspectiva feminista”, realizado no marco da reunião do G20 en Buenos Aires. “Na realidade, não são 20 países; son dois ou três os que definem o cenário mundial; e o restante acompanha, tratando de tirar alguma vantagem desses acordos ou desacordos”, disse Norma Sanchís, uma das co-directoras da Rede; e explicou acerca do seminário: “Como Rede de Gênero e Comércio, vimos desenvolvendo uma série de ações para tratar de traçar pontes e desvelar as conexões entre o modelo de desenvolvimento, as políticas comerciais, os movimentos do capitalismo financeiro, e as relações de gênero e as relações sociais em geral. À luz da teoria feminista e da economia feminista, nos propomos identificar a trama gerada entre a economia global com os mandatos do patriarcado que situam as mulheres numa situação desvantajosa, subordinada e ameaçada.”
A primeira a falar foi Mariama Williams, coordenadora do Programa de Governança Global para o Desenvolvimento do Centro Sul, Genebra, na Suíça, cuja área de pesquisa é a crise da crise da dívida, a crise financeira e a mudança climática.
Depois de se referir à grande incerteza econômica que o mundo enfrenta, às grandes mudanças tecnológicas, climáticas e conflitos armados, Mariama fez menção ao problema que hoje muitas nações tomam como próprio, que é o de gênero, mas em geral, “o que prevalece acima de tudo é uma retórica que tem a ver com a igualdade de gêneros, o que em muitos círculos feministas é chamado de pink washing ou lavagem rosa. Isto é, o gênero é invocado como uma questão instrumental. Por exemplo. Na OMC (…) alguns países em desenvolvimento estão resistindo a assinar alguns regulamentos relacionados à digitalização, por isso estamos apelando para esse discurso: precisamos avançar com a digitalização porque será bom para as mulheres “.
Mónica Peralta Ramos, doutora em sociologia, referiu-se à economia financeira e à disputa pela hegemonia. “As sociedades são estruturas de relações de poder, que sempre tiveram duas formas básicas: uma é a relação com a natureza, que envolve alimentar-se, produzir, certas relações do ser humano com a natureza, e outra é a reprodução como espécie. E os dois se cruzam. Daí a importância das mulheres e o problema das mulheres, porque é um eixo no qual todas as relações de poder se cruzam.
Isso me leva a outro ponto que parece crucial para mim que é que o poder é reproduzido através de dois eixos: um é a divisão: dividir para reinar. O outro é a naturalização: esconda a segmentação. Transforme a dominação em algo natural, invisível, que não é visto.
É por isso que é importante poder desvendar as estruturas de poder. E, para as mulheres, não segmentar e olhar para o problema apenas como feminino, digamos, da dominação pelo homem. Mas tentando integrar todas as formas de dominação que existem a partir desse núcleo central.
Por sua parte, Alma Espino de Uruguay, co-diretora da Rede de Gênero e Comércio, explicou que “a reunião do G20, os problemas a serem resolvidos, suas discussões e as soluções que possam surgir respondem às tensões políticas, econômicas e militares deste mundo globalizado. Paradoxalmente ou não, boa parte dos problemas que se apresentam nos dias atuais foram originados pelos países ali representados. O problema da mudança climática, a crise energética e alimentar, a especulação financeira, isso gerou uma crise sistêmica e civilizatória “.
Fonte: Rede de Gênero e Comércio